Aprender um novo idioma é uma corrida de longa distância, que requer tempo, dedicação e, muitas vezes, paciência para superar os obstáculos. Os resultados compensam, mas sabemos que o caminho pode ser árduo.
O nível de dificuldade varia de acordo com uma série de fatores. Um dos mais importantes é a distância na árvore genealógica entre a língua materna é aquela que queremos aprender. É por isso que o espanhol, o italiano e o francês são mais fáceis para nós, brasileiros, do que o alemão ou o chinês. Com uma origem latina comum ao português, esses idiomas têm semelhanças de alfabeto, sons e estrutura que agilizam o aprendizado.
A motivação é outro ponto importante. Ter um objetivo claro ajuda o aluno a se manter motivado e a persistir nos estudos mesmo diante de conjugações verbais cabeludas ou alfabetos ininteligíveis.
Seja qual for a sua meta – ler um romance russo no original? Entender o que seu artista preferido diz nas letras de suas músicas? Conhecer melhor as origens e tradições da sua família? Morar fora, ou talvez conhecer a Malásia? – ela servirá de impulso para vencer os obstáculos.
Neste artigo, listamos alguns dos idiomas mais difíceis de aprender – do ponto de vista de um lusófono, ou seja, alguém que tenha o português como língua nativa – e contamos algumas curiosidades sobre eles. Boa leitura!
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Idiomas mais difíceis de aprender para brasileiros
1. Árabe
Você já deve ter ouvido falar que o português tem uma infinidade de palavras originadas do árabe. É o caso de azeite (“az-zayt”, suco de azeitona), açúcar (“as-sukkar”, areia branca), almofada (al-muẖaddâ, o lugar da face) e tantas outras começadas com o prefixo “al”. Mas a familiaridade, gerada em parte pelos mais de 500 anos de presença árabe na Península Ibérica, não vai muito além disso.
É que o idioma árabe tem raízes, estrutura, alfabeto e escrita completamente distintas do português ou qualquer língua latina. A começar pelo sistema de escrita, chamado de abjad, que não apenas é feito da direita para a esquerda, como utiliza apenas consoantes – deixando para o leitor a tarefa de completar as palavras com a vogal correta. Nada fácil.
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Além disso, há duas vertentes oficiais do árabe: a clássica (que nasceu na tradição oral de povos pré-islâmicos e é usada, por exemplo, na leitura do Alcorão) e o coloquial (uma língua normativa utilizada no dia a dia, nos bares, restaurantes, etc.).
O sistema fonético árabe conta com 28 consoantes e três vogais – A, I e U –, que podem ter a pronúncia mais longa ou mais breve, de acordo com a palavra. Outra particularidade do idioma é que, além de plural e singular, ele tem uma terceira flexão gramatical de número. É o chamado “dual”, usado para se referir ao conjunto de duas coisas, como seres e entidades.
Essa flexão, inexistente no português, era encontrada no latim e deixou algumas reminiscências. É o caso do pronome indefinido ambos (as), que se refere à totalidade de um grupo de dois elementos.
2. Farsi/Persa
O farsi ou persa farsi é uma língua indo-europeia falada como língua nativa por cerca de 70 milhões de pessoas, principalmente no Irã e no Afeganistão, mas também no Uzbequistão e no Tajiquistão.
Embora seja um idioma complexo para os falantes de português aprenderem, quem souber inglês vai perceber várias palavras em inglês que se originam do farsi, incluindo “soup”, “pyjama” e “checkmate”. Um dos aspectos mais desafiadores da língua farsi é que ela usa uma escrita árabe, que não apenas parece completamente diferente do alfabeto latino, mas também é lida da direita para a esquerda.
Embora possa levar tempo para dominar, o farsi é uma linguagem muito poética na qual muitas das palavras têm significados profundos e duplos, e aprendê-lo conectará você a uma cultura rica e diversificada.
3. Hindi
O hindi é uma das línguas oficiais da Índia e a língua nativa de 341 milhões de pessoas. Também é falado em vários outros países, incluindo Nepal e Paquistão, e tem 274 milhões de falantes não nativos. O hindi descende do sânscrito, uma antiga língua do sul da Ásia que remonta a milhares de anos e tem semelhanças com o grego e o latim antigos.
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O hindi é escrito em script Devanagari, que pode levar um tempo considerável para os falantes de inglês dominarem. Quando se trata de pronúncia, o hindi é uma língua fonética, mas há muitos sons com os quais os falantes de português não estão familiarizados. Muitas das diferenças entre as palavras também são tão sutis que pode ser difícil para os novos alunos percebê-las.
Apesar dos obstáculos para aprendê-lo, no entanto, o hindi é uma bela língua com uma história rica, e aprendê-lo abrirá inúmeras novas oportunidades de viagem, trabalho e estudo.
4. Vietnamita
O vietnamita faz parte da família linguística austro-asiática. É a língua nacional do Vietnã e a língua nativa de cerca de 76 milhões de pessoas. O vietnamita pode ser útil para saber se você vai viajar ou permanecer no Vietnã por um longo período de tempo.
Isso é particularmente verdadeiro se você planeja se aventurar além das principais cidades e áreas turísticas populares onde o inglês é mais provável de ser entendido.
O vietnamita pode ser complicado para falantes de português devido à sua pronúncia difícil. Possui seis variações tonais, que são determinadas por diacríticos. Como a entonação da fala muda o significado do contexto, e algumas vogais podem ser combinadas para formar novos sons, você precisará gastar uma quantidade considerável de tempo ouvindo e praticando vietnamita antes de se fazer entender.
Felizmente, a prática leva à perfeição e, quando você se acostuma com os diferentes tons, a gramática vietnamita é bastante direta.
5. Basco
A língua mais antiga e misteriosa da Europa é falada nas comunidades autônomas de Navarra (no norte da Espanha), no País Basco e no sudoeste da França. Não há um consenso sobre sua origem já que, diferentemente da maioria dos idiomas falados no continente, o basco (também chamado de euskera ou euskara) não tem raízes indo-europeias. Pelo contrário, o basco não se assemelha a nenhum idioma em uso no mundo hoje.
Igualmente enigmático é o fato de a língua ter sobrevivido por milênios e especialmente à ditadura de Francisco Franco, que proibiu seu uso entre 1939 e 1975. Neste período, escolas clandestinas ensinavam o idioma como forma de resistência e valorização da história e da cultura do território basco.
Hoje, cerca de 35% da população da comunidade autônoma fala basco. E, embora o primeiro livro em euskara tenha sido impresso em 1545, na França, a língua só foi padronizada em 1968.
Sua raiz totalmente distinta de tudo o que conhecemos torna o aprendizado do basco um desafio mesmo para espanhóis e franceses – na verdade, para estudantes de qualquer nacionalidade.
Alguns sons até lembram o do castelhano (caso do “tx”, em euskara, que se pronuncia como o “ch” em espanhol e aparece em palavras como “txatarra”, que significa sucata, ou “txangurro”, que significa caranguejo), mas as semelhanças param por aí.
No caso do português, uma curiosidade é que a palavra “esquerdo” deriva de “ezker”, em basco – que também deu origem a “izquierdo”, em espanhol. Mas talvez essa seja nossa única relação com o euskera. Outra curiosidade (e essa não tem nada a ver com o idioma que falamos no Brasil) é que o basco tem um vocabulário amplo para se referir à natureza local, e mais de 100 maneiras diferentes de dizer “borboleta”.
6. Japonês
A dificuldade começa já na largada, com quatro sistemas de escrita diferentes. O mais tradicional (e complexo) é baseado em ideogramas chineses (embora as duas línguas sejam completamente diferentes), se chama Kanji e conta com mais de 3 mil caracteres.
O Hiragana é um sistema silábico usado para grafar palavras e elementos gramaticais. Ele auxilia a leitura do Kanji, como uma espécie de tradução sonora, e também serve para grafar palavras para as quais não exista o ideograma equivalente.
Não satisfeitos, os japoneses criaram ainda um sistema de escrita específico para palavras estrangeiras. Chamada de Katakana, é a escrita japonesa mais antiga, criada para simplificar os kanjis de origem chinesa. Ela é usada para identificar estrangeirismos e também para se referir a nomes científicos de plantas e animais.
Por fim, o Romaji (que, ao pé da letra, significa letra romana), é utilizado na transcrição da fonética do alfabeto japonês para o alfabeto latino. Estima-se que os primeiros sistemas de romanização (ou seja, a transcrição para o alfabeto romano) do japonês tenham surgido no século XVI, baseados na ortografia do – olhe só! – português.
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O estudante que conseguir passar da intrincada etapa escrita vai se deparar com outros desafios pela frente. Um deles é a ausência de gênero e a quase inexistência de artigos. Os substantivos em japonês não são masculinos ou femininos, como em português, e costumam aparecer nas frases sem o acompanhamento de um artigo. Plural e singular também não existem, a não ser nos casos em que especificar a quantidade mude o sentido da oração.
A recompensa para os persistentes, no entanto, vale a pena. Além de ser um idioma carregado de história e tradições, o japonês guarda expressões únicas, sem tradução literal para o português. É o caso da palavra “tsundoku”, que se refere ao hábito de comprar livros e não ler, acumulando-os em uma pilha. Quem nunca?
7. Russo
Poderíamos escolher qualquer uma das mais de 20 línguas eslavas como sinônimo de idioma difícil de aprender. Do polonês, com suas mais de 35 consoantes, ao tcheco, com uma série de palavras sem vogais, todas elas desafiam a determinação do estudante que se propõe a dominá-las.
Mas decidimos falar do russo. Não só por sua importância – são mais de 260 milhões de falantes, sendo cerca de 150 milhões nativos, o que a coloca no posto de língua com maior número de falantes nativos da Europa – como também por uma particularidade: o alfabeto cirílico. Assim como o búlgaro, o macedônio e o sérvio, o idioma russo tem um sistema de escrita muito particular.
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A boa notícia é que a maior parte das 33 letras do alfabeto cirílico russo encontra equivalentes no alfabeto latino. O “Б”, por exemplo, corresponde ao nosso B, assim como “Г” equivale ao nosso G e “п” representa o P. As letras A, E, M, O e T são iguais em ambos os alfabetos. Assim fica mais fácil entendermos que “папа” se lê “papa” – ou “papai”, em russo.
Claro que a lógica não serve para todas as palavras, mas certamente ajuda a dar os primeiros passos no idioma. O problema começa na pronúncia das vogais, que muda de acordo com as consoantes que as precedem. Essas, por sua vez, são classificadas como duras ou suaves, também de acordo com a pronúncia.
Não à toa, a parte oral é considerada a mais difícil de aprender, e o ideal é que o estudante dedique um bom tempo ao Alfabético Fonético Internacional (API) para entender como falar as palavras. Se levarmos em conta a diferença de sotaques do Norte, Sul e Centro do país, a língua de Dostoiévski pode ser mesmo incompreensível para os iniciantes.
8. Tailandês
Imagine um alfabeto composto por 44 consoantes, 32 vogais e 6 ditongos. Que tal somar mais cinco tons vocais que podem mudar completamente o significado de uma palavra? Está aí a receita para um dos idiomas mais difíceis de se aprender.
Assim como o japonês, o mandarim e o coreano, o tailandês é uma língua tonal. Na prática, isso significa que palavras com a mesma grafia mudam de significado de acordo com a entonação utilizada para pronunciá-las. No caso do thai, os cinco tons são alto, médio, baixo, ascendente e descendente.
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Quer um exemplo real? Os advérbios “perto” e “longe” têm praticamente a mesma pronúncia (mudando apenas a extensão das vogais) e significados, bem... exatamente opostos.
Aprender a ler e a escrever é uma das tarefas mais complexas. É que além do alfabeto único, os tailandeses não usam espaço entre as palavras. O espaço é empregado apenas para sinalizar o início e o fim de uma oração. Essa é uma das razões pelas quais se recomenda que o aluno aprenda primeiro a falar o idioma, para depois partir para a leitura e a escrita.
Não existe uma maneira universal de transcrever o tailandês para o alfabeto latino, mas a mais utilizada é o Sistema Geral Real Tailandês de Transcrição, conhecido pela sigla em inglês RTGS. Ele é adotado, por exemplo, em placas de trânsito ou restaurantes muito turísticos. O único problema é que esse sistema não é capaz de indicar a entonação ou duração das vogais. E aí o visitante corre o risco de pedir um prato e receber outro.
9. Mandarim
Quando você pensa em idiomas difíceis de aprender, o chinês é provavelmente o primeiro exemplo que vem à mente. Mas, com 918 milhões de falantes nativos e 199 milhões de falantes não nativos, o chinês mandarim é uma língua que vale a pena aprender.
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Como o tailandês e o vietnamita, o mandarim é uma língua tonal. Tem quatro tons, e o significado de uma palavra pode mudar dependendo da entonação utilizada. Por exemplo, a palavra “ma” pode significar “mãe” ou “cavalo”, dependendo do tom que você usa. O chinês escrito também é extremamente complexo, e o sistema de escrita chinês usa dezenas de milhares de caracteres distintos para representar ideias, conceitos ou objetos.
10. Coreano
O coreano é uma língua do leste asiático falada por 80 milhões de pessoas na Coreia do Norte e na Coreia do Sul. Embora não seja tão amplamente estudado quanto o japonês ou o chinês, é uma bela língua que possui o que é considerado o sistema de escrita mais lógico do mundo.
Por quê? O alfabeto coreano foi criado pelo rei Sejong, o Grande, em 1443. Ele queria desenvolver um sistema de escrita simplificado especificamente adaptado ao idioma coreano. Ele montou um comitê de estudiosos que desenvolveu o alfabeto que ainda está em uso hoje, conhecido como “Hangul”. Hangul consiste em apenas 24 símbolos, dos quais 10 são vogais e 14 são consonantes.
Mas, embora o sistema de escrita seja bastante simples, aprender coreano ainda é um desafio devido a diferenças na ordem das palavras, bem como sons de consoantes e vogais duplas.