A diversidade dos sotaques no mundo hispânico

Você sabia que não existe um único espanhol? O idioma é tão rico que cada país tem seu próprio sotaque. Pense assim: quando você conversa com alguém do Rio de Janeiro, de Recife ou do interior de São Paulo, percebe logo de onde a pessoa é pela pronúncia das palavras. Com o espanhol acontece o mesmo, mas em uma escala ainda maior.

Na verdade, todos os sotaques em espanhol têm uma história para contar. No Caribe, por exemplo, encontramos uma musicalidade de influência africana. Já nos países andinos, como Peru e Bolívia, é possível perceber marcas das línguas indígenas.

O mais interessante é que cada maneira de falar em espanhol nos ensina um pouco sobre a história do lugar. Por trás de uma pronúncia existe uma mistura de culturas, costumes e da geografia local. Assim, até mesmo um "buenos días" pode soar diferente dependendo do país.

Influências históricas nos sotaques do espanhol

Já parou para pensar como a língua espanhola chegou a tantos lugares do mundo? Quando os espanhóis chegaram à América, no século XV, encontraram povos indígenas que falavam suas próprias línguas. A partir daí, o espanhol foi se misturando com essas línguas locais.

Em muitas regiões, principalmente no Caribe e na costa do Pacífico, os povos da África também deixaram suas influências. É por isso que em lugares como Cuba, República Dominicana e Porto Rico encontramos uma sonoridade tão característica.

Além disso, as ondas de imigração também tiveram um papel importante. Na Argentina, por exemplo, a chegada de milhares de italianos influenciou a musicalidade do espanhol local. Nesse sentido, você pode perceber especialmente no famoso "che" argentino e na forma como eles alongam certas sílabas.

Com a globalização e a internet, os sotaques do espanhol seguem incorporando novas características. Não é à toa que o idioma é tão dinâmico e interessante de se aprender que tem conquistado milhares de pessoas todos os anos.

Sotaque da Espanha

Vamos começar nossa viagem pelos sotaques em espanhol com o berço do idioma? Bom, o jeito de falar da Espanha tem algumas características bem particulares que você vai descobrir logo na primeira conversa.

A mais famosa delas é o "ceceo" — aquele som que parece um "th" do inglês. Enquanto em outros países as palavras "gracias" e "cinco" são pronunciadas com som de "s", na Espanha você vai ouvir algo como "grathias" e "thinco". Sabe por que isso acontece? Essa pronúncia tem raízes no século XVI, quando a corte espanhola começou a usar esse som para se diferenciar das classes populares.

Apesar disso, nem todo mundo na Espanha fala assim! No sul do país, muitas pessoas fazem o "seseo" pela influência moura que a região recebeu durante séculos de ocupação. Já no norte e no centro, incluindo Madri, o "ceceo" se manteve como marca registrada.

Tem mais: os espanhóis costumam pronunciar mais rápido e "engolir" algumas sílabas no final das palavras. Em resumo, essa forma de falar em espanhol vem da mistura de diferentes povos que passaram pela península ibérica.

Sotaque do Caribe (Cuba, República Dominicana e Porto Rico)

O sotaque do espanhol caribenho é conhecido por sua pronúncia descontraída e rápida, que torna algumas palavras quase irreconhecíveis para quem está começando. Uma das principais características é como eles omitem o som do "s" no final das palavras. Por exemplo, "¿Cómo estás?" vira algo como "¿Cómo etá?", e "buenos días" soa mais como "bueno día". 

Basicamente, esse sotaque espanhol vem da mistura das línguas africanas trazidas pelas pessoas escravizadas com o espanhol dos colonizadores europeus. Não bastasse isso, várias novas palavras também foram incorporadas, e elas são usadas somente nesta região.

Sotaque rioplatense (Argentina e Uruguai)

A primeira coisa que chama atenção no sotaque da Argentina e Uruguai é o famoso "sheísmo" — quando o "ll" e o "y" viram "sh". Por isso, você ouve "yo me shamo" em vez de "yo me llamo". Mas, o que muita gente não sabe, é que essa pronúncia tem forte influência da imigração de povos da Itália que chegou à região no século XIX.

Por falar em influência italiana, é impossível não notar uma musicalidade na fala argentina e uruguaia. O jeito de alongar as vogais no final das frases ("¿Qué hacéees?") também veio dessa herança italiana — igualzinho ao que acontece com o português de São Paulo, que recebeu a mesma influência.

Além disso, o uso do "vos" no lugar do "" é outra marca registrada da região. Então, em vez de "tú tienes", você vai ouvir "vos tenés". Particularmente, é um charme, mas há quem diga que a pronúncia é, de certa forma, um pouco irritante. Seja como for, um fato interessante é que no Sul do Brasil temos essa influência também. É comum escutar as pessoas mais velhas de cidades pequenas falarem como se estivessem misturando os acentos do português, espanhol e italiano.

Sotaque mexicano

Já assistiu novelas ou filmes mexicanos? O sotaque em espanhol que você ouve nessas produções também é um dos mais conhecidos do mundo. Primeiramente, a principal característica do sotaque do México é a pronúncia das palavras marcada e pausada. Por isso, muita gente diz que é um dos sotaques mais fáceis para começar a praticar espanhol.

Porém, engana-se quem pensa que é só isso. O espanhol mexicano tem uma riqueza enorme graças às línguas indígenas, principalmente o náhuatl. Várias palavras que você usa sem perceber vêm dessa influência, como "chocolate" (xocolatl) e "tomate" (tomatl). Além disso, este é o sotaque que você reconhecerá nas ruas estadunidenses graças à forte imigração mexicana para o país norte-americano.

Sotaque andino (Peru, Bolívia e Equador)

Na região dos Andes (Peru, Bolívia e Equador), os sotaques em espanhol ganharam certas características graças à presença das línguas indígenas. O primeiro detalhe que você percebe é como a pronúncia é suave. As pessoas tendem a falar em um ritmo mais tranquilo, pronunciando cada sílaba com clareza. Inclusive, a própria geografia das montanhas andinas influenciou esse jeito de falar. Afinal, a vida é desacelerada por lá. Um luxo!

A influência indígena aparece em vários momentos. Por exemplo, os falantes dessa região costumam dar uma entonação diferente para algumas palavras, seguindo o padrão musical das línguas nativas. Você também vai ouvir muitas palavras em quéchua no meio das frases, como "wawa" (bebê) ou "chacra" (fazenda).

Sotaque chileno

Sabe quando você está conversando com alguém e parece que a pessoa está participando de uma maratona de palavras? É mais ou menos assim que podemos descrever o sotaque em espanhol do Chile. Afinal, eles são conhecidos por sua rapidez e por "comerem" algumas sílabas no meio das palavras. Por exemplo, "¿Cómo estás tú?" pode virar algo como "¿Cómo'tay?".

Existe um motivo para esse sotaque ser tão diferente: o Chile é praticamente isolado do resto da América Latina. De um lado temos a Cordilheira dos Andes, do outro o Oceano Pacífico. Logo, esse isolamento geográfico permitiu que a língua se desenvolvesse de um jeito bem próprio.

O vocabulário dos chilenos também é bem interessante. Resumindo: eles criaram tantas gírias próprias que até existem dicionários sobre isso. Palavras como "po" (que eles usam para dar ênfase), "weon" (que serve para tudo) e "cachai" (entendeu?) são alguns exemplos.

Sotaque da Colômbia e Venezuela

Os sotaques do espanhol da Colômbia e Venezuela possuem uma diversidade única. Na Colômbia, você pode encontrar diferentes formas de falar em cada região. O sotaque de Bogotá, por exemplo, é conhecido por ser um dos mais claros e neutros da América Latina.

Em Medellín, você vai perceber aquele "cantado" característico dos paisas (como são chamados os habitantes da região), que costumam alongar algumas sílabas. Já na costa caribenha colombiana, como em Cartagena, o sotaque se parece mais com o que falamos antes sobre o Caribe — rápido e com menos pronúncia do 's' no final das palavras. Você também escutará muito “chévere” (legal), “papi qué” e “mami”.

Na Venezuela, o espanhol tem uma sonoridade que mistura influências caribenhas com andinas. Eles também têm aquela característica de suavizar o som do 's' no final das palavras, mas de um jeito menos marcado.

Uma curiosidade: tanto colombianos quanto venezuelanos usam muito o "usted" nas conversas diárias, mesmo em situações informais. Já as expressões locais são tantas que daria para escrever um livro. Na Colômbia, você vai ouvir muito "parcero" (amigo) e "qué pena" (desculpa), enquanto na Venezuela é comum ouvir "chamo" ou "chama" (cara/mina).

Por fim, não podemos esquecer que a Venezuela vem passando por grandes mudanças sociais nas últimas décadas. Isso tem feito muitos venezuelanos migrarem para outros países, levando essa forma de falar em espanhol para diferentes partes do mundo.

A beleza da variedade dos sotaques em espanhol

Nossa viagem pelo mundo dos sotaques em espanhol mostrou que não importa para onde você vá, cada lugar guarda um jeito único e encantador de falar. O mais bacana é que, após entender essas diferenças, você começa a se sentir mais confiante para conversar com qualquer pessoa, não importa de onde ela seja. 

Imagine poder bater um papo com gente do México ao Chile, da Espanha à Colômbia. Com a prática e o estudo, isso é totalmente possível. Quer começar sua jornada pelo mundo do espanhol ou acelerar seu aprendizado? No Berlitz, você tem acesso a professores nativos de diferentes países hispanohablantes. Conheça nossos cursos de espanhol!

Em resumo

Como se caracteriza o "ceceo" espanhol? 

Em resumo, o ceceo espanhol é a pronúncia característica da Espanha em que o "z" e o "c" (antes de e/i) ganham um som similar ao "th" do inglês, fazendo palavras como "gracias" soarem como "grathias".

Qual é a principal característica do sotaque argentino?

A principal característica do sotaque argentino é o famoso "sheísmo", onde o "ll" e o "y" são pronunciados com som de "sh", transformando palavras como "yo" em "sho" e "llamar" em "shamar".

Por que o sotaque caribenho tem uma sonoridade tão particular? 

O sotaque caribenho tem uma sonoridade particular devido à forte influência africana na região, que trouxe características como a omissão do "s" no final das palavras e a troca do "r" pelo "l".