Carnaval no Brasil: saiba a origem e os tipos dessa festividade
Quando se fala no mês de fevereiro no Brasil, não se pensa em outra coisa que não seja o Carnaval. Essa festa cheia de dança, música e que movimenta milhares de pessoas por todo país foi trazida pelos portugueses, e desde então os brasileiros comemoram com foliões, trios elétricos e escolas de samba desfilando pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro ou pelo Circuito Batatinha de Salvador, sendo feriado em diversos estados do Brasil.
Contanto um pouco da história, em 1919, com o fim da Primeira Guerra Mundial e o arrefecimento da Gripe Espanhola, milhares de foliões saíram às ruas do Rio de Janeiro naquele que ficaria conhecido como o Carnaval mais louco de todos os tempos.
A capital do país era então uma metrópole vibrante, cosmopolita, berço de movimentos artísticos e novidades que eram copiadas Brasil adentro. E a primeira folia depois de tempos tão duros consagraria também a vocação da cidade para realizar aquela que se tornaria a maior festa popular do Brasil.
Mas a história do Carnaval no Brasil é muito mais antiga e, embora a partir do século XX a festa tenha se tornado um símbolo nacional, suas origens e significado remontam aos tempos da colônia que reflete na atualidade.
A origem do Carnaval no Brasil
Em seu livro “Metrópole à beira-mar”, que descreve o Rio dos anos 1920, o escritor Ruy Castro narra a expectativa para aquele o Carnaval. “No dia 9 de fevereiro [de 1919], um domingo, a quase um mês do Carnaval, o Correio da Manhã noticiou: ‘Hoje o Rio se agitará em mais uma véspera carnavalesca, preparatória do grande prélio da folia que se travará daqui a três semanas. Serão bailes e batalhas de confete por todos os bairros da cidade, e em todos reinará a mais estonteante alegria. É que Momo está para chegar com seu séquito de prazeres’”.
Além dos “bailes e batalhas de confete”, desde 1907 a metrópole contava também com um desfile de carros, os chamados corsos, pela Avenida Rio Branco. “Os corsos eram os eufóricos desfiles de automóveis abertos, de seis ou oito lugares (mas comportando o dobro disso), levando jovens e adultos mascarados, muitos sentados na capota arriada ou no encosto dos bancos, cantando e se agitando, a dez quilômetros por hora”, conta outro trecho do livro.
Foto: G1; Revista O Malho/Acervo Biblioteca Nacional/Editoria de Arte TV Globo.
As Grandes Sociedades, organizações que levavam às ruas alegorias decoradas por cenógrafos profissionais, e que dariam origem às escolas de samba, existiam desde 1855. Os desfiles eram feitos a cavalo e já tinham temas, alas e comissão de frente. Em 1919, os Fenianos, grupo que naquele ano completava 50 de existência, escolheram a Gripe Espanhola como tema de seu desfile.
Portugal tinha uma festa parecida com o que hoje conhecemos como Carnaval já nos séculos XV e XVI. Era o entrudo, brincadeira em que os foliões arremessavam uns nos outros “limões de cheiro” (bolas de cera com perfume dentro), farinha, lama e até urina. A chegada em massa dos portugueses ao território brasileiro nos séculos XVI e XVII trouxe junto a tradição. Por aqui, membros da elite, escravos, mulheres e crianças participavam do entrudo.
É verdade que as moças recatadas da época não podiam sair às ruas, mas se juntavam à folia arremessando os líquidos a partir das janelas de casa. As famílias mais abastadas muitas vezes preferiam não se juntar ao povo e organizavam festas particulares em seus casarões. De uma maneira ou de outra, porém, em todo o território o entrudo marcava o período de introdução da Quaresma.
A partir da década de 1840, uma campanha liderada pela elite e pela imprensa passou a pedir a proibição do costume, considerado violento e sujo. Na mesma época, começaram a surgir os primeiros bailes carnavalescos, os blocos e os cordões. Sem acesso a eles, os escravos e a população pobre continuaram brincando o entrudo nas ruas, mesmo após sua proibição.
O primeiro samba
Um marco importante foi o lançamento da música “Ó abre alas”, de Chiquinha Gonzaga, em 1899. Considerada a primeira marchinha de carnaval, a canção foi composta especialmente para o desfile do cordão Rosa de Ouro. E ajudou a consolidar um movimento iniciado algumas décadas antes, com o surgimento dos primeiros blocos: a substituição das músicas europeias, que até então embalavam os foliões, por ritmos locais.
A gravação, em 1916, de “Pelo telefone”, tido pelos historiadores como o primeiro samba do Brasil, também contribuiu para transformar a trilha sonora do carnaval. A festa ganhava contornos cada vez mais próprios e uma identidade que a tornaria famosa no mundo inteiro décadas depois.
Essa identidade está profundamente ligada às escolas de samba. O primeiro bloco a adotar esta nomenclatura foi o Deixa Falar, fundado oficialmente em 1927 e cujo primeiro desfile ocorreu no ano seguinte. No carnaval de 1928, a escola foi às ruas com quase 700 componentes e um samba enredo fluido, que os permitia dançar e caminhar (realizando a chamada evolução) ao mesmo tempo.
Desfile das escolas de samba
A Deixa Falar não durou muito tempo, mas suas inovações inspiraram outras agremiações, como Portela, Mangueira e Salgueiro e ajudaram a moldar os desfiles como conhecemos hoje.
O primeiro desfile oficial do país teria sido realizado em 1932, promovido por um jornal carioca. Nesta época, as marchinhas e o samba já davam o tom do festejo. Já consolidado como marco incontornável da cultura nacional, ele chama a atenção do Estado Novo, de Getúlio Vargas, que organiza a festa e dá a ela as formas que têm atualmente: as escolas desfilando em uma avenida, com sambas sobre a história do Brasil e de grandes personalidades.
Na década de 1970 os desfiles passaram a ser televisionados, o que projetou nossa imagem de país do carnaval para o mundo inteiro. Foi nesse período também que os sambas-enredo começaram a ser gravados em LP, normalmente com grande sucesso de vendas, aumentando ainda mais a importância cultural do evento.
No começo dos anos 1980, o carnaval carioca já era a maior fonte de renda do turismo da cidade e responsável por atrair milhões de turistas que visitavam não apenas o Rio de Janeiro, mas outros pontos do país. Era hora de a maior festa popular do planeta ganhar casa própria.
Com projeto de Oscar Niemeyer, o sambódromo da Marquês de Sapucaí foi inaugurado em 1984, com seus 700 metros de passarela e capacidade para acomodar 60 mil pessoas (ampliada para 72 mil depois da última reforma). Se ainda existia algum resquício de improviso, a festa agora se profissionalizava completamente e atingia o patamar de indústria de entretenimento que ocupa até os dias de hoje.
Conheça também como é o Carnaval ao redor do mundo.
Outros tipos de festividade
É inegável que o carnaval do Rio de Janeiro popularizou a folia e a tornou conhecida para muito além do Brasil. Mas ele está longe de ser a única festividade do tipo no país. Cada região guarda suas particularidades e, ao longo das décadas, criou festas muito próprias.
Trios elétricos
Sinônimo de carnaval em Salvador, o trio elétrico foi criado em 1950, quando os músicos Osmar e Dodô equiparam um velho Ford 1929 com caixas de som e saíram tocando pelas ruas da cidade. Os criativos amigos foram batizados de “dupla elétrica” e fizeram tanto sucesso que, no ano seguinte, o Ford foi trocado por uma picape Chrysler Fargo 1949, mais robusta, para um novo desfile. A dupla também precisava de um reforço, e convidou o músico Temístocles Aragão para participar da festa, formando, agora sim, um trio elétrico.
Além de permitir a criação de uma indústria cultural fora do eixo Rio-SP, os trios elétricos tornaram-se um marco histórico por outro motivo: até a década de 50, a Bahia tinha um carnaval branco, realizado dentro dos clubes por uma pequena elite, e um negro, nas ruas. A revolução tecnológica de Osmar e Dodô arrastou foliões de todas as etnias e classes sociais atrás de seus frevos, marchinhas e outros ritmos populares. Como diria Caetano Veloso anos mais tarde, “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
Frevo e o carnaval Recife-Olinda
Quase tão antigo quanto o carioca, o carnaval do Recife assistiu, na década de 1880, ao nascimento dos “clubes pedestres”, espécie de bloco em que as pessoas saíam a pé pelas ruas da cidade. A festa era animada por bandas marciais que tocavam marchas e pouco a pouco começaram a incorporar o choro e o maxixe, dando origem ao frevo.
O surgimento do ritmo e da dança que se tornaram marca registrada da folia pernambucana também deve muito à cultura africana. É que capoeiristas que costumavam acompanhar as bandas marciais ajudaram a criar a nova música tocada por elas, bem como a coreografia tão particular.
Aliás, reza a lenda que o uso dos guarda-chuvas também surgiu da contribuição desses capoeiristas. Acostumados a carregar pedaços de pau para se defender de grupos rivais, eles precisaram recorrer a outra “arma” quando a repressão passou a proibir seus instrumentos de defesa. Segundo reportagem da revista SuperInteressante, os capoeiras começaram a levar guarda-chuvas – normalmente fechados, por conta do mau estado de conservação – para os desfiles.
Outro patrimônio do carnaval Recife-Olinda são seus blocos de rua. O mais famoso deles, o Galo da Madrugada, foi criado em 1978 e, ao longo de 43 anos, serviu de inspiração para outras agremiações, como o Pinto da Madrugada (em Maceió), o Galo de Porto (em Porto Alegre) e o Galo na Neve (em Quebec, no Canadá).
O cortejo, que começou com 75 pessoas que saíam às ruas ao nascer do sol, hoje tem mais de 300 carregadores de bonecos e bandeiras, cerca de mil artistas (entre cantores, músicos e bailarinos) e 30 trios elétricos. Em 1994, quando reuniu mais de 1,5 milhão de foliões, foi eleito pelo Guinness Book como o “maior bloco de carnaval do planeta”. O recorde foi quebrado novamente em 2018, nos 40 anos do Galo, quando 2,3 milhões de pessoas acompanharam o desfile pelas ruas do centro do Recife.
Manaus, com o terceiro maior desfile de escolas de samba do país, Belo Horizonte, onde o primeiro grupo carnavalesco foi criado em 1899, e São Paulo, com seus bloquinhos que se multiplicam a cada ano, também se tornaram polos da folia ao longo do tempo.
Em todos os cantos do Brasil, a festa que nasceu na Europa mas ganhou aqui sua identidade derradeira reúne foliões de todas as idades, credos e classes sociais para quatro dias de fantasia e celebração. E para depois, como diz a letra, tudo se acabar na quarta-feira…
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